Se você foi às compras algumas vezes nos últimos meses, certamente reparou na grande variação de preço de diversos produtos considerados essenciais. E, durante as suas pesquisas de compra, pode ter notado que a mudança de preços não passou batida pelas gôndolas de café.
Isso mesmo: o café comum, conhecido como tradicional, que grande parte da população consome no dia a dia, teve diversos reajustes de preço durante o ano de 2016 e também agora em 2017.
Em um cenário de crise econômica, hoje vamos explicar de forma simples os motivos do aumento dos preços do café, como isso refletiu no mercado e na produção dos agricultores nacionais. Confira nosso post de hoje!
Clima foi o vilão da indústria de café
Além de todos os problemas enfrentados pela crise econômica mundial e fatores do mercado financeiro que agravaram muito a situação, como a inflação crescente e o aumento das tarifas de energia elétrica, o principal problema que afeta a cotação e, consequentemente, o preço do café no varejo é a questão climática.
Em algumas regiões do Brasil, a seca foi o grande problema dos produtores em 2016. Já em outras, foi a chuva inesperada a grande vilã dos cafeicultores nos últimos meses.
Tantas oscilações climáticas não previstas na produção comprometeram os estoques. Em vários estados brasileiros, do Norte ao Sul do país, pequenos e médios produtores sofreram com as dificuldades de entregarem grãos de qualidade para a indústria.
A chuva, por exemplo, derrubou pés e frutos antes do momento adequado para a colheita, enquanto a seca alterou a qualidade da produção.
Com tudo isso, a lei da oferta e da procura imperou nas negociações durante quase todo o ano. Com a disponibilidade abaixo do esperado de alguns produtores e a procura crescente pelos grãos, o preço subiu em velocidades inesperadas.
Para o consumidor, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o repasse do preço chegou, em alguns momentos, a quase 30% de aumento. Para a indústria, a saca de 60kg do café conilon pulou num intervalo de tempo pequeno de R$370 para R$520.
Já as sacas do café Arábica, considerados mais finos e de maior complexidade, ultrapassaram os R$650 nas regiões do Sul de Minas e Cerrado Mineiro. Há negociações sendo feitas com grãos especiais e de peneira alta (tamanho do grão) em valores bem acima de R$800 — cerca de 39% maior do que no ano passado.
Falta de produto causa mudança no mercado
Teoricamente, o aumento do preço das vendas das sacas de café seria motivo de comemoração para os produtores, que poderiam negociar com a indústria e o mercado melhores valores e condições para as vendas das sacas.
Entretanto, as mudanças climáticas inesperadas esvaziaram os depósitos e, em vários momentos ao longo de 2016, não houve estoque suficiente para negociação e aumento de lucro.
O reflexo disso passou a ser visto nas fábricas de café do país. Antes deste momento de crise, algumas indústrias de torrefação do Espirito Santo, por exemplo, utilizavam cerca de 70% de grãos arábica e 30% de conilon na fabricação dos blends — as misturas de café que compramos comumente no supermercado.
Com a dificuldade em se conseguir grãos conilon de qualidade, quantidade e preços desejados, a mistura chegou a ser alterada e o índice desses grãos chegou a níveis de 15% no blend. Isso demonstra claramente que grande parte da indústria brasileira não se preocupa com qualidade nem padrão do sabor para o consumidor, apenas com preço.
A solução de algumas indústrias acabou sendo a utilização de grãos arábica de qualidade intermediária e que, com o aumento da procura, também já começam a ter o seu preço aumentado.
Essa situação revela, entre outros contratempos, o problema da baixa qualidade do café tradicional oferecido nos supermercados. Sempre acostumados a oferecer um café feito basicamente com grãos de qualificação não muito alta, os grandes fabricantes se viram obrigados a usar grãos de qualidade melhor para complementar a mistura que vai para as prateleiras. Esse cenário propicia o constante crescimento dos cafés gourmet, que não perdem a qualidade mesmo durante um cenário de crise.
Seca provocou fato inédito
As mudanças climáticas provocaram em 2016 situações inéditas no mercado de café do Brasil. Uma delas impressionou os negociadores e os empresários do ramo de café que acompanham as variações de preço diariamente.
Pela primeira vez na história do nosso país, mais precisamente em outubro, o preço do café conilon chegou a ultrapassar o do arábica. Isso acontece, segundo especialistas, porque o estado do Espírito Santo, principal produtor de conilon do país, sofre com uma implacável crise hídrica há anos.
Para se ter uma ideia, a produção desse tipo de café naquele estado chegou a 11 milhões de sacas em 2014, mas, em 2016, caiu para menos de 6 milhões, quase a metade.
Como o café conilon é fundamental para que a indústria possa fazer os blends dos baratos cafés mais vendidos no mercado, a escassez do produto fez com que a sua cotação subisse de forma espantosa. No caso da indústria de cafés de alta qualidade, esta espécie não é utilizada no processo produtivo.
O preço que a indústria pagou ao produtor, é claro, acabou sendo transferido para o consumidor final nas prateleiras dos supermercados.
Consumo cresceu mesmo com preço elevado
Engana-se quem pensa que a alta dos preços do café tenha prejudicado, de alguma forma, o seu consumo entre os brasileiros. Novamente de acordo com informações da Abic, houve um aumento de demanda de quase 3,5% no comparativo com os últimos doze meses.
Assim, o que justifica o aumento do consumo, mesmo com a alta dos preços, é que o café, em geral, ainda é uma bebida barata.
Junto ao crescente número de novos apaixonados pela bebida, principalmente pelas versões de maior qualidade, o consumo permanece sustentado de forma positiva, o que garante boas previsões para os produtores e para a indústria nos próximos anos.
Até mesmo a crise econômica que afeta o país pode ter contribuído para o aumento do consumo nos lares. Os que não vivem sem a bebida optam, cada vez mais, por comprar os grãos ou pó para fazer em casa do que gastar em cafeterias ou casas especializadas.
Agora que você já entendeu um pouco melhor sobre os motivos do aumento dos preços do café durante o ano de 2016, que tal conferir o nosso post que explica por que os cafés gourmet são mais caros que os tradicionais?